Fundos Europeus: de mãos dadas no sector imobiliário

Está traçado o caminho. Não só nos próximos anos, como nas próximas décadas, estaremos focados em encontrar e aplicar alternativas energéticas que mitiguem a crise ambiental que parece cada vez mais difícil de contrapor. O modus operandi que tornará possível este travão encontra-se entre duas presunções: ou a sociedade se readapta a uma nova realidade, com consequências para o seu desenvolvimento e bem-estar, ou encontra soluções que lhe permitam manter um cenário de crescimento, mas sustentado. E sustentado em várias frentes. Tendo por base preocupações sociais, económicas e estruturais. Consideremos natural e expectável que se siga a segunda perspetiva.
Este novo paradigma passa, obrigatoriamente, pela adoção de medidas focadas na sustentabilidade energética, pela crescente utilização de matérias-primas com compromisso ecológico e pela adoção, por parte de todos nós, de um comportamento responsável e consciente.
Ciente disso, a União Europeia encontra-se a desenvolver uma estratégia concertada, que visa manter-se na vanguarda do desenvolvimento humano e social, sem perder competitividade e com uma política energética assente no bem-estar do planeta e das próximas gerações. Portugal tem, aqui, uma excelente oportunidade. Não é admissível que o nosso país, cujas características endógenas são extraordinárias, tenha tantas limitações nos seus edifícios – o que resulta em espaços, ou demasiado frios no inverno, ou demasiado quentes no verão.
Então, o que fazer?
À disposição do país encontram-se valores impressionantes, destinados a investimentos no setor imobiliário. Exemplo disso, o Plano de Recuperação e Resiliência disponibiliza um total de 1.583 milhões de euros[1]. Destes, 610 milhões de euros estão reservados para a eficiência energética dos imóveis nacionais, dos quais, 70 milhões destinam-se a edifícios de serviços[2].
Não nos esqueçamos também da ELPRE, Estratégia de Longo Prazo para a Renovação de Edifícios, aprovada em Conselho de Ministros há cerca de um ano (em fevereiro de 2021), em colaboração com a ADENE e a DGEG. Este é outro plano de descarbonização que pretende incentivar a uma maior eficiência no consumo de recursos naturais, mas também mitigar a pobreza energética do parque edificado português. Com um investimento global de 7.671 milhões de euros até 2040, representa cerca de 250 milhões de euros anuais alocados para este desiderato[3].
Espera-se que, em meados do século, a totalidade dos edifícios no nosso país esteja devidamente renovada e que, com isso, se melhore o seu desempenho, também por via da progressiva descarbonização das infraestruturas e melhoria da qualidade do ar. Esta estratégia contribuirá fortemente para os objetivos nacionais e da União Europeia de atingir a neutralidade carbónica até 2050[4].
Os imóveis de escritórios são parte importante nessa estratégia, com um posicionamento muito claro e associado a esta realidade. No que toca aos centros empresariais, existem inúmeras oportunidades, por norma centradas na redefinição de edifícios inteligentes, com crescente autonomia e oferta de serviços face a uma procura mais pronunciada pelos mesmos.
Quem lida diariamente com decisores empresariais, desde gestores de organizações de menor dimensão (mas ainda assim muito atentos às tendências do setor), até às multinacionais oriundas dos países com crescentes preocupações ambientais, sabe que a capacidade de responder a exigências de cariz sustentável é um dos pontos mais relevantes quando chega a hora de escolher o parceiro de escritório. Quando se fala em inovação e maleabilidade perante as necessidades das organizações, este é um tema primordial.
Cabe-nos, pois, aproveitar as oportunidade que se levantam, no sentido de criar uma dinâmica no mercado, alavancada com a necessidade de encontrar soluções para um problema que a todos nos afeta e que exige respostas imediatas. Devemos estar na linha da frente quanto à disponibilização de escritórios e espaços de negócios com as melhores alternativas ambientais, cientes que todos (desde o setor ao tecido empresarial) têm a ganhar com uma mentalidade mais sustentável e uma visão a médio-longo prazo.
Mafalda Samwell Diniz, Head of Marketing & Communication da MALEO
[1] https://supercasa.pt/prr-3-mil-milhoes-de-euros-dedicados-a-habitacao-e-eficiencia-energetica/n747
[2] https://www.deco.proteste.pt/investe/investimentos/imobiliario/comprar-casa/noticias/2021/11/entrevista-ministro-ambiente
[3] https://imobiliario.publico.pt/noticias/futuro-imobiliario-tera-passar-praticas-mais-sustentaveis/
[4] https://www.adene.pt/elpre-preve-reabilitacao-de-100-dos-edificios-ate-2050/
Artigo publicado em https://visao.sapo.pt/exame/opiniao-exame/2022-05-05-fundos-europeus-e-sustentabilidade-de-maos-dadas-no-setor-imobiliario/
Back